"Para que as pessoas se sintam parte do espaço,
para que elas interajam com ele é necessário controlar a escala do lugar. O
lugar não pode ser grande demais, por que senão as pessoas ficam isoladas e não
interagem umas com as outras, e nem pode ser muito pequeno para que elas
não se sintam intimidadas ou tenham sua privacidade invadida".
Atualmente vivemos com espaços que contrariam essa noção dita por Hertzberger,
temos ruas grandes demais com muitos carros, que sufocam a relação entre as
pessoas, e a relação destas com a rua. E por outro lado, temos os apartamentos,
cada vez menores, e s condomínios que prendem e resguardam tanto a privacidade,
que as pessoas não se sentem a vontade de ter uma relação com o vizinho ao
lado.
A
presença de espaços residenciais e comerciais exclusivos, com o fechamento de
ruas e praças, ganha cada vez mais adeptos nas grandes cidades. São desde
pequenas cidades, como os grandes condomínios cercados com guardas particulares
e sistemas de segurança, até fechamento de ruas comerciais. A
privatização de espaços públicos é uma solução em tempos de falta de
segurança ou uma alternativa que incentiva a segregação?
A
privatização de espaços públicos não é solução para a falta de segurança. Para
a elite que mora nas cidades com carros blindados e circula entre os espaços
fortificados de residência, trabalho,
estudo e lazer, a cidade vem perdendo suas características fundamentais de
“cidade”, espaços de convivência e de exercício da cidadania. Passa a ser
apenas lugar da circulação, da passagem, do ir e vir. Até a população de menor
renda começa a buscar proteção em conjuntos habitacionais murados, reproduzindo,
soluções adotadas nos bairros mais valorizados. Possuem menos infra-estrutura e
serviços, mas buscam a segurança. A segregação surge como conseqüência quase
inevitável do processo de privatização dos espaços públicos e do confinamento
sócio-espacial. Busca-se uma segregação física para se colocar a salvo, o
que impede crianças e jovens de conhecerem o diverso, constituindo um
empobrecimento cultural. Para evitar a decadência de cidades e o aumento dos
perigos é preciso evitar o excesso de fechamentos e abandono de ruas públicas.
"Em
alguns casos, o fechamento de ruas é segregação. Em outros, é solução. Deve-se
pensar não apenas na segurança, mas na degradação do espaço público, que é
fruto do desinteresse pelo espaço público. São Paulo, por exemplo, tem cultura
automotiva: espaços verdes e praças são substituídos pelo leito carroçável. O
volume de tráfego, principalmente nos bairros residenciais, gera degradação,
diminui a qualidade de vida e faz com que se perca o sentido de espaço íntimo
para um espaço impessoal, com menos segurança. No trabalho que realizamos na
Vila Olímpia, em São Paulo, buscamos soluções para dificultar esse fluxo, por
exemplo, aumentando o tamanho das calçadas e aplicando mecanismos acalmadores
de tráfego, que diminuam a velocidade e inibam o fluxo de passagem. É preciso
assumir a corresponsabilidade pelo espaço público. A população ainda tem pouca
consciência e até descaso pelo espaço público e de como tomar conta
dele.", diz Roberto Aflalo.
É por
isso ,que torna-se a cada dia mais importante o comprometimento de arquitetos e
urbanistas, na concepção de projetos que não permitam essa segregação. Ao meu
ver, a função principal do arquiteto,é criar espaços funcionais, mas que não
deixem de lado o conforto e a sociabilidade. Não que projetos de edíficios, e
urbanisticos, irão transformar as pessoas de repente, no entanto, eles podem
facilitar encontros,
diminuir a segregaçãp, permitir mais descontração aos que o usam, em seu
resultado mais satisfatório: atrair a tal ponto o usuário que este acabe se
apropriando do espaço, criando com ele uma relação de pertencimento, de posse.