terça-feira, 18 de dezembro de 2012

RELAÇÕES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO


           Os modernistas acreditavam que o desenho da cidade seria o propiciador de um mundo mais igualitário e que a estrutura urbana poderia ser conformada racional e funcionalmente de forma a se atingir o bem-estar social. Porém, o esquematismo e o excesso de racionalização que concebia a habitação padronizada sem qualquer relação com a identidade do morador provocaram fortes críticas por parte das gerações mais novas. O chamado, Team 10, foi buscar no resgate das categorias da cidade tradicional um maior sentido de comunidade e identidade, uma construção de relações mais imediatas entre o núcleo familiar e o grupo social, entre a residência e os espaços coletivos.

 A relação público-privado é apresentada por Hertzberger sob o ponto de vista, do grau de acesso aos espaços. O Autor define o espaço público como sendo uma área “acessível a todos a qualquer momento”, mas que não se pode entender a oposição desse espaço em relação ao espaço privado de modo rígido, sem matizes. As gradações de acesso, cujos espaços correspondentes o autor chama de semi-públicos e semiprivados, são resultantes de qualidades espaciais designadas pelo grupo social usuário ao mesmo tempo em que são produtos da demanda e do projeto: “O grau de acesso de espaços e lugares fornece padrões para o projeto. A escolha de motivos arquitetônicos, sua articulação, forma e material são determinados, em parte, pelo grau de acesso exigido por um espaço”. 
 Herman Hertzberger é um arquiteto que não traz soluções prontas em seus projetos, mas deixa espaço para o usuário intervir á seu modo. Defende a ideia de que não deve existir oposição entre espaço público e espaço privado, e sim “gradações” de acessibilidade; luz, cores,  formas e funções que são definidas apenas pelo material utilizado. Para ele, a fase com maior importância, é a fase de concepção do projeto, e todo esse cuidado fica evidente em cada obra sua executada. Hertzberger já projetou vários edifícios  dentre os premiados, estão os edifícios escolares.
Para que haja uma fácil compreensão das relações Público x Privado, usaremos como exemplo, uma escola. 
Mesmo que uma escola seja pública, seu espaço é destinado a um determinado público e restrito aos demais. Existe um controle de entrada e saída, os ambientes não podem ser abertos a todos. Desta forma, apesar de a escola ser construída e administrada pelo poder público, seu espaço é considerado privado. 
A grande maioria das escolas, possuem seus espaços claramente definidos e separados por muros. 


Figura 1 - PÚBLICO X PRIVADO
    
Um bom exemplo de como trabalhar a relação ESCOLA X CIDADE, seria criar uma área de arborização, que encontraria-se fora do muro, mas ainda assim dentro do terreno da escola.  Por estar dentro do terreno da escola, esse espaço não se classificaria como um "espaço de ninguém", pois pertence a escola e aos usuários (alunos, funcionários e pais), sendo assim, possuiria manutenção e segurança proporcionada pelo "olhar" dos usuários, citado por Jane Jacobs em seu livro, "Morte e vida das grandes cidades". Subentende-se que esse espaço não seria classificado com um em que qualquer indivíduo possa utilizar. E por estar fora do muro, não precisa haver um controle de circulação, entrada ou saída. Portanto, seria um espaço de transição, o chamado: SEMI-PÚBLICO.
Havendo essa área de arborização, quando os responsáveis viessem buscar os alunos na escola, poderiam ficar sentados na área existente sob a sombra das árvores, conversando sobre os filhos, enquanto os aguardam.
Embora seja simples e propicie uma melhor qualidade de vida para as cidades, é uma solução esquecida nos projetos de arquitetura. E é uma solução que deve ser considerada, pois esse espaço enriquece consideravelmente, tanto um espaço, quanto o outro.


Figura 2 - Espaço semi-público

Figura 3 - Fica evidente, a existência de um espaço de transição no projeto acima após uma análise; mas o usuário certamente ficaria confuso, se tivesse que definir cada espaço, ao contrário do que ocorreria na Figura 1.
  
Segundo Richard Rogers, "Os edifícios e seus espaços adjacentes devem se interrelacionar definindo espaços externos que funcionem como salas sem telhado".
O equilíbrio entre o espaço público e privado é primordial para a construção da cidadania. São espaços que facilitam o encontro, a troca de experiências, a interação, a descontração.   
Se um espaço pode ser definido como, público ou privado, devido ao grau de acesso que lhe é permitido, pode-se observar então um “jogo de espaços que podem ser coletivos e ao mesmo tempo privados.
        Ainda no exemplo da escola, podemos ter uma sala de aula que é privada se comparada ao pátio, e esse pátio é privado se comparado à rua. No entanto, ao mesmo tempo que esse pátio é coletivo em relação à sala de aula, ele é privado em relação à rua. Fica nítido então, o "jogo de espaços".


Figura 4 - "Jogo de espaços"
  
Trazendo para a realidade de Campinas, por exemplo, na Praça Carlos Gomes percebemos perfeitamente estes conceitos, pois a praça em si, trata-se de um local público, sendo permissível o acesso a toda a população. Mas, ao mesmo tempo, encontramos nela espaço que podemos considerar como privado pois o acesso não deve ser permitido, que é o caso dos canteiros de gramados, os quais não devem ser pisados até mesmo por questões de ética e preservação do espaço.

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