quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

PRIVATIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS


            "Para que as pessoas se sintam parte do espaço, para que elas interajam com ele é necessário controlar a escala do lugar. O lugar não pode ser grande demais, por que senão as pessoas ficam isoladas e não interagem umas  com as outras, e nem pode ser muito pequeno para que elas não se sintam intimidadas ou tenham sua privacidade invadida". Atualmente vivemos com espaços que contrariam essa noção dita por Hertzberger, temos ruas grandes demais com muitos carros, que sufocam a relação entre as pessoas, e a relação destas com a rua. E por outro lado, temos os apartamentos, cada vez menores, e s condomínios que prendem e resguardam tanto a privacidade, que as pessoas não se sentem a vontade de ter uma relação com o vizinho ao lado.
                A presença de espaços residenciais e comerciais exclusivos, com o fechamento de ruas e praças, ganha cada vez mais adeptos nas grandes cidades. São desde pequenas cidades, como os grandes condomínios cercados com guardas particulares e sistemas de segurança, até fechamento de ruas comerciais. A  privatização de espaços públicos é uma solução em tempos de falta de segurança ou uma alternativa que incentiva a segregação?
                 A privatização de espaços públicos não é solução para a falta de segurança. Para a elite que mora nas cidades com carros blindados e circula entre os espaços fortificados de residência, trabalho, estudo e lazer, a cidade vem perdendo suas características fundamentais de “cidade”, espaços de convivência e de exercício da cidadania. Passa a ser apenas lugar da circulação, da passagem, do ir e vir. Até a população de menor renda começa a buscar proteção em conjuntos habitacionais murados, reproduzindo, soluções adotadas nos bairros mais valorizados. Possuem menos infra-estrutura e serviços, mas buscam a segurança. A segregação surge como conseqüência quase inevitável do processo de privatização dos espaços públicos e do confinamento sócio-espacial.  Busca-se uma segregação física para se colocar a salvo, o que impede crianças e jovens de conhecerem o diverso, constituindo um empobrecimento cultural. Para evitar a decadência de cidades e o aumento dos perigos é preciso evitar o excesso de fechamentos e abandono de ruas públicas.
                "Em alguns casos, o fechamento de ruas é segregação. Em outros, é solução. Deve-se pensar não apenas na segurança, mas na degradação do espaço público, que é fruto do desinteresse pelo espaço público. São Paulo, por exemplo, tem cultura automotiva: espaços verdes e praças são substituídos pelo leito carroçável. O volume de tráfego, principalmente nos bairros residenciais, gera degradação, diminui a qualidade de vida e faz com que se perca o sentido de espaço íntimo para um espaço impessoal, com menos segurança. No trabalho que realizamos na Vila Olímpia, em São Paulo, buscamos soluções para dificultar esse fluxo, por exemplo, aumentando o tamanho das calçadas e aplicando mecanismos acalmadores de tráfego, que diminuam a velocidade e inibam o fluxo de passagem. É preciso assumir a corresponsabilidade pelo espaço público. A população ainda tem pouca consciência e até descaso pelo espaço público e de como tomar conta dele.", diz Roberto Aflalo.
                 É por isso ,que torna-se a cada dia mais importante o comprometimento de arquitetos e urbanistas, na concepção de projetos que não permitam essa segregação. Ao meu ver, a função principal do arquiteto,é criar espaços funcionais, mas que não deixem de lado o conforto e a sociabilidade. Não que projetos de edíficios, e urbanisticos, irão transformar as pessoas de repente, no entanto, eles podem facilitar encontros, diminuir a segregaçãp, permitir mais descontração aos que o usam, em seu resultado mais satisfatório: atrair a tal ponto o usuário que este acabe se apropriando do espaço, criando com ele uma relação de pertencimento, de posse.  

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